MANOEL MACHADO DE LEMOS
Piassabussu (Alagoas, Brasil) teve o seu grande poeta em Machado Lemos. E não somente um grande poeta em Machado Lemos.
E não somente um grande poeta, mais ainda um curioso patriota, que chegou a viajar de sua vila a Maceió, a cavalo, para votar. Intransigente defensor das classes proletárias, servindo religiosamente a todos os que o procuravam, deram-lhe, por isso, a pecha de “comunista”.
Machado de Lemos fez o curso secundário no Seminário de Olinda, abandonando a carreira eclesiástica por ter sido atacado de beribéri.
Mais tarde, viajando para Mato Grosso, aí se fixara por algum tempo como secretário do Governador do Estado, cujo cargo abandonara com a deposição deste. Regressando a Alagoas, casou-se aos 22 anos com dona Isaura Machado, de distinta família alagoana.
Em Maceió exerceu, por certo tempo, função de redator de Atas da Câmara dos Deputados.
Escreveu, com assiduidade, no Gutenberg, na “A Tribuna”, na revista “Éxedra” e no “Lutador”, este jornal de Penedo.
Foi também agricultor em Alagoas e Sergipe, sendo um eterno enamorado da vida bucólica e do Rio São Francisco, a que dedicou belos versos, escritos na “Fazenda Paraná”.
Era filho do senhor do “Engenho Seco” (em Piassabussu) Ambrósio da Silva Lemos e de dona Antônia de Souza Machado.
Acometido de uma arteriosclerose cerebral, veio a morrer na cidade de Penedo, em 23 de maio de 1947.
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AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
ÚLTIMA VONTADE
Vai-se-me, aos poucos, extinguindo aquela
Luz dos meus olhos que dos teus provinha,
E a tua mão que a fronte me acarinha
Há-de compor-se a fúnebre capela.
Chorando apagarás a minha vela,
E o hálito que se apagar, se eu, por minha
Sorte, pudesse haurir, então, azinha
Vida me fora o que foi morte nela.
Último instante, lúrido, pressago,
Que eu, arquejante e esquálido, maldigo,
Mesmo sentindo o teu piedoso afago.
Ficas. Eu morro. Ignoto rumo sigo,
E, nesta pena de deixar-te, indago:
Por que não morrer tu também comigo?
ÚLTIMO BEIJO
Hás-de beijar-me, eu sei, depois de morto.
Mas esse beijo, ao fim da trajetória,
Receberei como último conforto
E não ponto final da nossa história.
Porque não morre o amor, nem na memória
Foge, de vez, o tempo nele absorto.
Assim a nau, na imensidade aquória
Vai-se e retorna ao primeiro porto.
Último beijo, frígido, infinito,
Beijo de mármore, infernal, bendito,
No qual aos outros que sorvi concentro,
E ainda através de séculos perdura.
Que o levo, é certo, para a sepultura,
Porém que os vermes pouparão lá dentro.
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Página publicada em junho de 2021
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